Edição v.11 n.1
Filosofia, Ética e Bioética
Philosophy, Ethics and Bioethics
EDIÇÃO DE JANEIRO/MARÇO DE 2005 - ISSUE OF JANUARY/MARCH OF 2005
Ao completar 10 anos de publicação ininterrupta Cadernos - Centro Universitário São Camilo introduz uma novidade. Uma edição especificamente Filosófica. A busca amorosa — ou desejosa — de saber traduz o nome próprio Filosofia. Trata-se de um movimento para o alto, isto é, de uma subida não para as estrelas, como queria o aprendiz de Sócrates,Gláuco, mas uma ascensão ao que realmente importa. A Filosofia é a busca da sabedoria. Segundo a História da Filosofia, este termo aparece dentro de um espírito religioso, que entendia que a aproximação à Sofia — à Sabedoria — era possível somente aos deuses. A posse certa e total da sabedoria significava, ao mesmo tempo, posse certa e total da verdade. Assim, aos humanos era possível somente o aproximar-se contínuo da verdade, manifestado numa tendência à Sabedoria. Tendência,aproximação contínua, Desejo: eis o amor à sabedoria que jamais poderia ser apagado. O mundo da economia de mercado descreve a nossa época como a era do conhecimento. No entanto, há 25 séculos os gregos começaram um caminho sistemático em direção ao conhecimento, à sabedoria. Sistemático significa aqui a possibilidade de desconsiderar o concreto em busca do invisível, do que está além de toda realidade palpável. Uma procura do fundamento, da causa, da razão de ser das coisas e do mundo. Por isso, a filosofia é um movimento para o alto que necessita de uma curvatura — ou de uma reverência — ao que está acima de nós reverência ao Outro, àquele que provoca ou que coloca à prova. Algumas destas provocações foram reunidas neste volume e é com muita honra que as apresentamos. Ao completar o seu primeiro ano de vida, o curso de Filosofia do Centro Universitário São Camilo pode se questionar sobre a necessidade de mais um curso de filosofia no universo acadêmico brasileiro. Após ter sido banida do nosso ensino durante o regime militar, a Filosofia começa lentamente a retomar o seu lugar de direito, isto é, na formação da consciência crítica dos cidadãos deste país. E no momento em que ela concretamente começa a voltar às escolas do Estado de São Paulo, o curso de Filosofia, atendendo ao carisma camiliano de promover a saúde humana em todos os seus aspectos, vem contribuir de forma inovadora em nosso meio. De fato, a Filosofia, desde os seus primórdios na Grécia Antiga, consistiu em promover o equilíbrio entre as duas dimensões humanas: a mente e o corpo. Para os antigos, o corpo são dependia diretamente da mente sadia. Portanto, buscar a saúde é, em última instância, desenvolver a cidadania, educar, contribuir para o crescimento integral do humano. Diógenes Laércio já havia compreendido isso ao identificar em Asclépio o médico do corpo e em Platão o médico da alma imortal. Na República, uma das maiores obras filosóficas da antigüidade, o próprio Platão alerta para o fato que os que não conseguem ver o interior não são filósofos. Ver o interior é função do médico em busca da patologia que induz o sujeito ao sofrimento. Ver o interior é função do filósofo em busca do cuidado da alma, pois como bem apontava Heráclito, os confins da alma — da psyché — são tão profundos que não poderemos jamais encontrar. Cuidado da alma e cuidado do corpo parece encontrar-se neste apelo de Platão: “A alma nos ordena de conhecer aquele que nos apela ‘conhecete a ti mesmo’”. Para melhor enfrentar os desafios da ciência e da tecnologia, sobretudo no que concerne a sobrevivência do humano e de sua casa — o corpo, o planeta — é preciso cuidar da mente, do pensamento que move toda busca de conhecimento. Este volume, com a presença de tão eminentes colaboradores, pretende ser uma contribuição neste diálogo iniciado na Grécia. A questão do cuidado da sobrevivência já está certamente presente nas palavras de Descartes,grande filósofo francês que teve seu nome identificado com as posturas errôneas do nosso século no cuidado com o que sofre. Cartesiano passou a ser aquele que separa nitidamente corpo e alma,numa traição do pensamento do filósofo que diz que o estudo da sabedoria, que é a própria busca da filosofia, é o desejo de um conhecimento perfeito, de um conhecimento abrangente, isto é, que envolva todas as coisas que o ser humano pode conhecer, quer para a conduta de sua vida, quer para a conservação de sua saúde. Portanto, a filosofia não é o lugar da falta de compromisso com o real. Abstrair não significa brincar num infinito jogo de palavras, mas buscar a vida em sua plenitude. Conservar a saúde e prevenir a doença: a investigação filosófica permite este caminhar, pois auxilia o humano a colocar questões sobre si mesmo, sobre o sentido de sua existência. Que a leitura, reflexão e discussão dos textos da presente edição nos ajude a sermos sempre mais sábios na arte de viver e conviver, bem como possamos sabiamente, com o crescente conhecimento que adquirimos, construir um futuro feliz para a vida na face da terra.
To celebrate its 10 years of uninterrupted publication Cadernos — Centro Universitário São Camilo inovates to give readers a gift: a special edition devoted only to philosophy. Loving — or desirous – pursuing knowledge is the really adequate translation for Philosophy itself. Philosophy is about moving upwards, that is, an ascent not toward the stars, as would wanted Socrates disciple, Glaucus, but a movement towards to the one thing that really matters: Philosophy is the pursuit of wisdom. The History of Philosophy teaches us this term appeared under the aegis of a religious spirit, spirit that understood approaching to the Sophia — the Wisdom, that is — was something only gods could do. The precise and total appropriation of wisdom meant at the same time the precise and total appropriation of truth. Thus, human beings were able only to continuously coming close to truth, something describe as tending to Wisdom, marching to Wisdom, continuously approaching it, Desire: here is the love for Wisdom, a love that could never be extinguished. The world of the market economy describes our time as the age of knowledge. However, 25 centuries ago the Greeks had begun to march in a systematic way towards knowledge, towards Wisdom. Systematic means here the possibility to disregard the so-called concrete in search of the invisible, a search for what is beyond all concrete reality — a search for the seed, search for the cause, search for the reason why things and the world exist. Therefore, philosophy is a pursuit of the high needs a bending — or a reverence — to what is above us: reverence towards the Other, to the one who challenges or puts to test. Some of these challenges are present in this issue and we have the honor to present tehm. The first year of existence of the course of Philosophy of Centro Universitário São Camilo can be an occasion for it to question the need of yet another course of philosophy in the Brazilian academic universe. After having been banished of our educational system during the military rule, Philosophy slowly begins to come back to its legitimate place, that is, the promotion of a critical conscience creation process by the country citizens. And the moment it concretely begins to come back to the schools of São Paulo State, the course of Philosophy, caring for to the Camillian charisma, to promote human being’s health in all its dimensions, makes an effort to contribute in an innovative way to Philosophy’s march. As a matter of fact, Philosophy consists from its beginnings in Old Greece in promoting the balance between the two dimensions of human beings: the mind and the body. For our ancestors, the body depended directly on a healthy mind. Therefore, to search for health is in the last instance to develop citizenship, to educate, to contribute for the integral growth of human beings. Diogenes Laertius had already understood this when identifying in Asclepius the doctor of the body and in Plato the doctor of the immortal soul. In Plato’s Republic, one of the most important philosophical works of Antiquity, Plato himself emphasizes that the one who is not able to see inside is not a philosopher. To see inside is the function of the doctor in search of the pathology that makes citizens suffer. To see inside is the function of the philosopher seeking to care for the soul, for as Heraclitus pointed out wisely the confines of the soul — of psyche — are so deep as not to be ever found by us. Caring for the soul and caring for the body seem to obey Plato summons: “The soul commands us to know the one who enjoins us: “Know thyself!” For us to better face the challenges of science and technology, chiefly as regards the survival of human beings and their house — the body, the planet — it is imperative to care for the mind, for the thought that moves all pursuit of knowledge. This issue, which presents such eminent collaborators, intends to be a contribution for this dialogue begun in Greece. The question of caring for survival is certainly already present in the words of Descartes, the great French philosopher whose has been identified with the erroneous views of our century as regards caring for those who suffers. Cartesian began to be construed as one who clearly separates body and soul — a treason to the thought of the philosopher for whom the study of wisdom, that constitute the real task of philosophy, it the desire of a perfect knowledge, of a comprehensive knowledge, and this encompasses all things human beings can know, both concerning how to conduct his life and the maintenance of health. Therefore, philosophy is not the place for a lack of commitment with Reality. Abstraction does not mean to play an infinite word game, but searching for life in its fullness. To maintain health and to prevent illness: the philosophical inquiry allows this march to happen and therefore it assists human beings to ask questions about themselves, about the sense of their existence. We hope the reading of, the reflection on and the discussion of the texts of the present issue will help us to be ever wiser in the art of living and living together, allowing us as well to live wisely with the increasing knowledge we acquire, in order to create a happy future for the life in the surface of Earth.
Afetividade e transcendência
Affectivity and transcendence
Autores:
Paul Gilbert
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Resumo:
A cultura contemporânea, ao confundir “positividade” com “objetividade”, acaba por cair na armadilha de uma grosseira ideologia cientificista, reduzindo-se a acentuar as pretensões de uma subjetividade que desconhece o lugar que lhe cabe e desconhece ainda mais o real sentido de seu envolvimento com o mundo; além disso, ela oculta seu próprio estatuto ontológico. Dessa ideologia decorre a perturbação por que passa nosso sentido de realidade. A discussão do tema da afetividade é parte do esforço da consciência contemporânea no sentido de limitar os atributos ilegítimos da ciência. No tocante a esse tema, tão vital para nosso destino como espécie humana, a leitura de um autor como Michel Henry, tão acerbamente crítico diante de nossa atual tecnociência, é uma tarefa inevitável. Este trabalho faz uma leitura que busca acentuar a mediação que a afetividade oferece entre, de um lado, a nossa cultura, composta apenas de exposição ou de representações, e, do outro, a vida religiosa dedicada livremente a essa emoção que, embora não nasça espontaneamente no coração humano, nem por isso deixa de constituir o mais elevado grau de interioridade a que cada um de nós tem acesso.
When contemporary culture fails to distinguish between ‘positivity’ and ‘objectivity’ it falls in the trap of a rude scientificist ideology, and it is reduced to emphasize the pretentiousness of a subjectivity that knows not its legitimate place and knows even less the precise sense of its involvement with the world; besides, it occludes its own ontological statute. Due to this ideology, the sense of reality is nowadays completely astray. Discussing the topic of affectivity is a contribution to the effort contemporary conscience does in order to impose limits to the illegitimate attributes of science. As regards this topic, undoubtedly crucial for our destiny as human species, reading an author like Michel Henry, so radically critical of our present technoscience, is an inevitable task. This is a reading which will emphasize the mediation offered by affectivity between, on the one hand, our culture, made only of exposition or representations, and religious life devoted freely to this emotion which, without being spontaneously born in human beings’ hearts, constitutes nevertheless the highest level of interiority each one of us is able to experience.
La culture contemporaine, lorsqu’elle confond ‘positivité’ et ‘objectivité’, se laisse illusionner par une idéologie scientiste banale; elle ne fait qu’accentuer les prétentions d’une subjectivité qui ignore sa mesure et qui s’aveugle sur le sens exact de son engagement dans le monde; elle occulte son propre statut ontologique. Le sens du réel est aujourd’hui mis en déroute par cette idéologie. L’attention au thème de l’affectivité participe à l’effort
de la conscience contemporaine, pour limiter les attributs illégitimes de la science. Sur ce thème, à vrai dire décisif pour notre destin humain, la lecture d’un auteur comme Michel Henry, si farouchement critique de la techno-science actuelle1, est incontournable. Cette lecture mettra en relief la médiation qu’offre l’affection entre notre culture toute d’exposition ou de représentations d’une part, et d’autre part la vie religieuse dédiée librement à ce qui,sans naître spontanément du cœur de l’homme, constitue la plus grande intériorité de chacun d’entre nous.
Metodologia Científica Método e Indução
Scientifical methodology Method and induction
Autores:
Leonidas Hegenberg
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Resumo:
Este comentário gira em torno de várias obras que se têm voltado para a chamada metodologia científica. Em síntese, dois pontos são abordados: método e indução. Quanto ao método, ressalta-se que o início e o final das pesquisas (tal qual acontece nas partidas de xadrez) podem ser “sistematizados”, a fim de que resultados das investigações se ponham — nas bibliotecas — ao alcance de interessados. Todavia, o “miolo” das pesquisas não pode ser fixado com margens
rígidas, cabendo deixar margem para que os pesquisadores procedam como convier, em cada caso. Quanto à indução, cabe sublinhar que as obras em tela repetem a idéia de que “é proceder que vai do particular para o geral”. Trata-se de um erro que se vem mantendo há muito e que, no entanto, deve ser eliminado de uma vez por todas.
The present article makes a survey on several books that have been written about the so-called scientific methodology. Two specific items are the focus of the analysis: method and Induction. As regards method, we observe that the initial and final phases of research (in analogy to what happens in chess) can undergo a “systematization” so as to allow easy access to results (in libraries, say). The “middle phase” of research, however, cannot obey to rigid norms. Some freedom has to be given to researchers for them to act according to the circumstances requirements. As for Induction, we emphasize that the books examined repeat the usual old ideas, considering induction as a “passage from particulars to the general”. This is a long-standing mistake that has to be corrected once and for all.
Uma cartografia para a inter e a transdisciplinaridade: Filosofia, ciência e arte
A cartography for inter- and transdisciplinarity: Philosophy, Science and Art
Autores:
Lucia Santaella
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Resumo:
Desde os anos 1970, os filósofos e historiadores da ciência têm colocado ênfase na necessidade de se buscar novos paradigmas para as ciências. Junto com essa busca vem sendo conclamada a urgência da inter, da multi e da transdisciplinaridade. Entretanto, como repensar as relações perdidas entre a filosofia, as ciências e as artes? Como pensar as relações entre as ciências e realizar a inter e a transdisciplinaridade na falta de alguma espécie de guia e sinalização de percurso? Como transpor as fronteiras impostas pela extrema especialização das diferentes áreas do conhecimento? Este artigo visa propor e argumentar que, na obra de C. S. Peirce, podem ser encontradas as vias mais sofisticadas e complexas para se pensar as relações entre a filosofia, as ciências e as artes e as relações das ciências entre si, realizando uma inter-multi-transdisciplinaridade que vai muito além das meras cartas de intenções a que essa questão costuma ficar restrita. A cartografia transdisciplinar de Peirce está suportada por uma filosofia da ciência, esta sintonizada com uma filosofia da natureza, sendo capazes ambas de dar conta dos desafios apresentados pelo avanço tecnocientífico contemporâneo.
From the years 1970 on, philosophers and historians of science have been emphasizing the necessity of searching for new scientific paradigms. In parallel to this search, the urgency of inter-, multi- and transdisciplinarity has also been the object of insistence. However, how can we rethink the lost relations that could link philosophy to the sciences and the arts? How can we think the relationships among the sciences and accomplish the aimed inter and transdisciplinarity if we lack some kind of guide for this complex enterprise? How can we go beyond the frontiers which are imposed by the hyper-specialization of the different fields of knowledge? This article aims to propose and argue that in the work of C. S. Peirce can be found the most sophisticated and complex paths to think the relationships among philosophy, the sciences, and the arts and the relationships among the sciences themselves, in order to accomplish a kind of inter-, multi- and transdisciplinarity that goes beyond the mere letters of intention to which this problem tends to be limited. Peirce’s transdisciplinary cartography is supported by a philosophy of science and is tuned to a philosophy of nature. Both are able to face the challenges that are posed by contemporary technoscientific developments.
O dualismo e o argumento dos zumbis na filosofia da mente do século XX
Dualism and the argument of zombies in the twentieth century philosophy of mind
Autores:
Gustavo Leal Toledo
João de Fernandes Teixeira
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Resumo:
O artigo discute alguns aspectos da filosofia da mente de David Chalmers, em especial seu argumento a favor da existência dos chamados zumbis. Zumbis seriam estranhas criaturas filosóficas que, apesar de terem todas as características físicas dos seres humanos, seriam desprovidos de consciência e de qualia. Argumentamos contra a possibilidade de conceber, mesmo que apenas logicamente, a existência dos zumbis, o que enfraquece o dualismo de Chalmers.
The paper focuses on some aspects of Chalmer’s philosophy of mind, namely, his argument in favor of the existence of the so-called zombies. Zombies would be weird philosophical creatures endowed with all human physical properties though lacking conscious experiences and qualia. We argue against the logical possibility of conceiving zombies, thus weakening Chalmer’s dualism.
Filosofia da mente: Causalidade e a questão da vontade
The philosophy of mind: causality and the question of will
Autores:
Mariluze Ferreira de Andrade e Silva
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Resumo:
Causalidade e Vontade podem ser analisadas a partir de várias abordagens. O tema aqui proposto será orientado para a filosofia da mente. Iniciaremos com a visão ética da relação causalidade e Vontade, a seguir, nortearemos para o enfoque científico das funções cerebrais e estados mentais. O objetivo dessa análise é tentar mostrar se a Vontade tem ou não fundamentação causal. No caso de haver uma base causal para a Vontade, qual a natureza dessa causa: física e/ou mental ou de outra natureza.
Causality and Will can be analyzed from several different points of view. Our theme will be explored here from the perspective of the philosophy of mind’. We begin with an exam of the ethical aspect of the relationship between Causality and Will, considering next the scientific aspect of cerebral functions and mental states. Our aim is to verify if Will has (or not) a causal background. In case of a positive answer, we’ll conjecture about the nature of this causal background – a physical and/or mental one or some other kind.
Convergência na liberdade
Convergence in freedom
Autores:
Hubert Lepargneur
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Resumo:
Este artigo examina as interferências da filosofia, da ética e da bioética na fluxo da evolução das ciências e das técnicas, como da progressiva
globalização mundial. Salienta a influência de posições religiosas, nem sempre declaradas porque mal vistas nas elaborações científicas. O conjunto reflete a complexidade de uma antropologia moderna, sem eliminar a impressão do caráter central e misterioso da liberdade do ser humano operando num condicionamento sempre cambiante.
The present paper discusses the influences of philosophy, ethics and bioethics on the progress of the sciences and the techniques, as well as the influences coming from the progressive world “globalization”. The paper emphasizes the influences of religious points of view, not always explicit because of their “bad press” in scientific formulations. The paper as a whole is a reflection of the complexity of modern anthropology, without nevertheless disregarding the insight one has of the centrality and mysterious character of human beings’ liberty acting in an always changing conditioning context.
Farias Brito e Rubem Alves: o homem como preocupação filosófica – algumas considerações
Farias Brito e Rubem Alves: man as a philosophical concern – some remarks
Autores:
Antônio Vidal Nunes
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Resumo:
Rubem Alves (1933) e Farias Brito (1862-1917) são dois pensadores pátrios que viveram em períodos diferentes. Eles, que tiveram interesses e preocupações filosóficas comuns, tais como apreço à poesia, valorização da ética, percepções do sentido trágico da existência, críticas ao positivismo e à ciência em decorrência de suas pretensões de um saber seguro e absoluto, adotaram o homem como pensamento central em suas incursões reflexivas. Alves ressalta o homem enquanto ser de desejo e de sonho, não negando a importância do papel intelectivo. O desejo nos move e o intelecto nos ilumina no que diz respeito aos caminhos a serem trilhados. Farias Brito, ressaltando a importância do homem enquanto ser de vontade, confere primado ao pensamento, à consciência enquanto manifestação e expressão máxima de uma energia criadora – o Espírito –, pois ela, a consciência, é capaz de estabelecer o sentido do mundo e do homem, possibilitando também ao Espírito conscientizar-se de si.
Rubem Alves (1933) and Farias Brito (1862-1917) are two Brazilian thinkers from different in periods of Brazil’s history. These thinkers, apart from having shared some philosophical interests and concerns such as the pleasure of poetry, the consideration of ethics a value to be cultivated, insights on the tragic meaning of life, a critical point of view against positivism and to science due to these latter’s claims of a safe and absolute knowledge, have also taken man as the central object of thought in their reflective probes. Alves highlights man as a being made of desire and dream, not neglecting the importance of the intellective role. Desire makes us go ahead, while the intellect enlightens us concerning the paths to be taken. Farias Brito, highlighting
the importance of man as a being of will, gives primacy to thought, to conscience as understood as the instantiation and highest expression of a creative power – the Spirit –, since conscience is able to establish the meaning of man and the world, also enabling the Spirit to have consciousness of itself.
Thomas Hobbes e o conceito de liberdade: análises e leituras
Thomas Hobbes and the Concept of Liberty: analysis and readings
Autores:
Humberto Dantas
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Resumo:
O termo liberdade é amplamente debatido na filosofia. Seu caráter relativo e absoluto é constantemente questionado e redesenhado. A despeito da importância desse debate, a ciência política reserva especial atenção para a discussão acerca da liberdade dos indivíduos que vivem em sociedade. Até que ponto os indivíduos são considerados livres quando se associam? É possível pensar em liberdade nos regimes absolutos? A democracia, sob seus formatos modernos, confere alguma liberdade aos cidadãos? Sem o intuito de esgotar as respostas a essas perguntas, o objetivo desse trabalho é analisar o pensamento de Thomas Hobbes, e sua visão acerca do conceito de liberdade. Defensor do absolutismo, o autor nos mostra que apesar de perdermos parte de nossa possibilidade
de ação — o que garante nossa paz e evita a guerra de todos contra todos — somos livres. Tal liberdade, no entanto, deve ser entendida sob seu caráter relativo, uma vez que ela ocorre sob determinadas condições. Para Hobbes, um indivíduo é livre até mesmo se estiver enclausurado. Isso porque o tamanho de uma prisão pode determinar os limites da liberdade desse sujeito. Isso é liberdade?
Liberty is a most debated theme in the field of philosophy. Its character of a thing at the same time relative and absolute is the object of constant
discussions and efforts of redefinition of its sense. Because of the relevance of the said debate political science gives a special attention to discussions
on the liberty of individuals living in society. In what degree are individuals considered free at the moment they began to lived in a commonwealth? Is it possible to conceive of liberty in the context of absolutist regimes? Does democracy in each of the several forms it takes in modernity gives citizens some degree of liberty? Without intending to be comprehensive as regards answers to these questions, the present work aims to examine Thomas Hobbes thinking and his perspective on the concept of Liberty. Champion of absolutism, Hobbes shows that in spite of losing part of our agency’s possibilities – the price of our living in peace and the way to prevent the war of all against everyone – we are nevertheless free. This liberty must however be understood from the perspective of its relative character, since its existence is conditioned by some requirements. According to Hobbes, the individual is free even when imprisoned, for the prison walls are not able to limit this agent’s liberty. Is it liberty?
Saúde: uma abordagem filosófica
Health: a philosophical approach
Autores:
Monica Aiub
Luís Paulo Neves
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Resumo:
O resgate da gênese do conceito de saúde, abordando as relações havidas entre a medicina e a filosofia no pensamento grego clássico, tem como base a similaridade dos métodos de Hipócrates e de Platão, apontando para uma íntima relação entre filosofia e medicina em suas respectivas origens. Hipócrates busca a compreensão do todo do ser humano e das partes integrantes deste todo, de modo que o foco do cuidado está centrado no ser humano e não na patologia do corpo. A saúde é então resultado do equilíbrio das partes na sua relação com o todo. Platão, traçando uma analogia com o cuidado do corpo, entende a saúde da alma como virtude (arete), cujo cuidado dava-se através do conceito de pharmacon – remédio, droga, veneno, cosmético –, neste caso entendido como o uso da palavra: quando administrada a fim de levar ao conhecimento e ao equilíbrio é remédio; quando mal empregada, veneno; quando dissimulada, cosmético. Com a modernidade é enfatizada a cisão do corpo e da mente e o ser humano passa a ser visto de forma fragmentada, analisado a partir de suas partes componentes. É preciso retomar então a concepção integral do ser humano e o caráter terapêutico da filosofia, enquanto cuidado, equilíbrio e saúde do humano, resgatando as relações entre filosofia e medicina. Por fim, remete para questões éticas e bioéticas no que diz respeito à compreensão e ao trato do ser humano.
A historical survey on the genesis of the concept of health that takes into account the relationships medicine and philosophy had had in classical Greek
thought has as its basis the similitude of Hypocrates and Plato’s methods, and it points to a intimate relationship between medicine and philosophy in their
respective origins. Hypocrates looks for an understanding of human beings as regards their wholeness and the component parts of this whole. Because of this, the focus of care has as its center human beings themselves and not the pathologies the body can suffer from. Plato, making an analogy between
caring for the body and caring for the soul, understands the soul’s health as virtue (arete) and caring for the soul had as its basis the concept of pharmakon – medicine, drug, poison, cosmetics – understood as the use of the word: when used in order to bring knowledge and to balance, it is a medicine;
misused, it becomes a poison; when dissimulated, it becomes a cosmetics. Modernity brought with it an emphasis on the separation between mind and soul, and human beings come to be conceived as fragmented beings, examined only from the point of view of their component parts. Because of this, it is now imperative to go back to an integral view of human beings and the therapeutic character of philosophy – in its role of care, balance and health of human beings –, and bring back the relationships between medicine and philosophy. In its final section, the present article refers to ethical and bioethical issues regarding respect for the understanding of and the caring contacts with fellow human beings.
Anencefalia: Aspectos gerais e bioéticos
Anencefalia: General and bioethical aspects
Autores:
Mario Dolnikoff
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Resumo:
A anencefalia é apresentada nos seus aspectos gerais como o conceito, a incidência, a neurulação, sua etiologia, o quadro clínico, o diagnóstico, o tratamento e seu prognóstico. Seguem-se conceitos gerais de Bioética e por fim são analisados os elementos de conduta na anencefalia à luz da Bioética.
This article presents anencefalia in its general aspects, such as the concept, the incidence, neurulation, etiology, clinical condition, diagnostics, treatment and prognostics. Besides, the article discusses general bioethical concepts and also presents a reflection on the way anencefalia should be regarded from the perspective of bioethics.
Filosofia Clínica: o que é isto?
Clinical philosophy: What is it?
Autores:
Monica Aiub
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Resumo:
Questões existenciais, problemas com relacionamentos, angústias, dificuldades na vida são motivos que levam várias pessoas a procurar um filósofo clínico. Essa atividade, ao mesmo tempo antiga – pois data da origem da filosofia o cuidado da alma – e nova – pois se apresenta como um novo paradigma, surgido para responder às necessidades contemporâneas do ser humano –, tem gerado muita polêmica tanto no meio acadêmico como entre as psicoterapias. De que se trata, afinal, a Filosofia Clínica? Uma breve apresentação de seus fundamentos, origens e instrumental, assim como sua íntima relação com questões éticas é o objeto do artigo Filosofia Clínica: o que é isto?
Existential questions, problems in relationships, anxieties, life difficulties… these are some of the reasons that make people see a clinical philosopher. This activity, at the same time immemorial for the beginnings of the activity of caring for the soul and the inception of philosophical thought goes back to the same period and new because is comes now inside a new paradigm developed to attend to human beings contemporary needs has been lately the object of many controversies both in the academy and in the field of psychotherapies. How can we define Clinical Philosophy? A brief presentation of its background, origins and resources as well as its intimate relationship with ethical issues is the object of Clinical Philosophy: What is It?
“A-DEUS”
“A-DEUS”
Autores:
Gláucia Rita Tittanegro
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Resumo:
Este trabalho procura mostrar através de um antagonismo a importância do Outro. Três vidas que convergem no reconhecimento do Outro e que apontam para a frieza do escrito, mostrando que a Interpretação devolve o calor à Palavra proferida pelo Mestre. Três vidas que nos deixaram e das quais herdamos a responsabilidade de perpetuar suas palavras.
The present paper aims to show by means of a comparison the relevance of the Other. Three lives that converge in their recognizing the Other, lives that point to the coldness that marks writing’s materiality, showing thereby that Interpretation gives back warmness to the Word proffered by the Master. Three lives that have leaved us, lives from which we inherited the responsibility of making eternal the words they have uttered.