Conversamos com o Prof. Dr. Padre Christian de Paul de Barchifontaine que fala um pouco da enfermagem e suas transições, além das perspectivas da profissão

Prof. Dr. Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine
Enfermeiro, Mestre em Administração Hospitalar e da Saúde, Doutorado em Enfermagem pela Universidade Católica Portuguesa. Docente no Mestrado e Doutorado em Bioética do Centro Universitário São Camilo. Autor e co-autor de vários livros na área da saúde, cidadania e bioética. Foi reitor do Centro Universitário São Camilo (SP) de 1994 a 2014, atualmente, presidente da sociedade de Bioética de São Paulo e Relações públicas das organizações camilianas.

Revista Nursing:
A enfermagem em décadas passadas era apreendida na prática, Enfermeiras mais velhas ensinavam as mais novas. Atualmente para se tornar um enfermeiro é necessário muito estudo e conhecimento, quais são as matérias mencionadas em um currículo de enfermagem e entre elas, qual se deve ter maior atenção?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
Hoje, a competência do enfermeiro de cuidados gerais refere-se a um nível de desempenho profissional demonstrador de uma aplicação efetiva do conhecimento e das capacidades, incluindo ajuizar. A prática profissional há de ser exercida com responsabilidade, segundo a ética e a legalidade. Na prestação e gestão de cuidados, estão implicados: promoção da saúde, recolha de dados, planejamento, execução, avaliação, comunicação e relações interpessoais, Na gestão de cuidados, incluem-se: ambiente seguro, cuidados de saúde interprofissionais, delegação e supervisão. No desenvolvimento profissional, estão a valorização profissional, a melhoria da qualidade e a formação contínua.

Assim, todas as matérias do currículo são importantes, enfatizando que o exercício profissional do enfermeiro há de ser realizado com competência para promover a saúde do ser humano na sua integridade, de acordo com os princípios de ética e da bioética.

Revista Nursing:
Para alguns leigos a enfermagem só está atrelada para o cuidado, mas quais são as funções da enfermagem? E quais são os nichos profissionais que a enfermagem pode atender?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:

Os enfermeiros constituem, atualmente, uma comunidade profissional e científica da maior relevância no funcionamento do sistema de saúde e na garantia do acesso da população a cuidados de saúde de qualidade, em especial em cuidados de enfermagem. O enfermeiro, sendo responsável para com a comunidade na promoção da saúde e na resposta às necessidades em cuidados de enfermagem, assume o dever de: 1 – conhecer as necessidades da população e da comunidade onde está inserido; 2 – participar na orientação da comunidade na busca de soluções para os problemas de saúde detectados; 3 – colaborar com outros profissionais em programas que respondam às necessidades da comunidade.

Assim, além de todas as especializações existentes que são importantes, hoje um nicho importante é a saúde pública e saúde da família.

Revista Nursing:
Existem algumas prescrições médicas em que está descrito ”se necessário” quem vai julgar a necessidade é o enfermeiro, o senhor acredita que o enfermeiro recém formado está preparado para tomar essa e outras tantas decisões?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
Infelizmente não! A formação e capacitação deixam a desejar: muitas faculdades de enfermagem sem qualidade, preço de varejo, sem estágios nos hospitais; só laboratórios com bonecas. Nós lidamos com pessoas humanas e as reações são bem diferentes das bonecas; nos relacionamos com pessoas!! Temos vidas humanas nas mãos.

Revista Nursing:
O médico perante o enfermeiro fica pouquíssimo tempo com o paciente, já quele faz as devidas prescrições e deixa o paciente sob o cuidado da enfermagem, que passa a noite observando e zelando o mesmo. O senhor acredita que o enfermeiro compreende a importância de seu trabalho?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
É importante enfatizar na graduação de enfermagem a grande responsabilidade do enfermeiro, já que é o enfermeiro que fica 24 horas junto ao paciente. Daí a importância da capacitação bem como dos estágios sérios com acompanhamento de monitores.

Revista Nursing:
O conhecimento de cada especialidade é um diferencial para o enfermeiro ou é uma necessidade para manter a qualidade em seu trabalho?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
É uma necessidade para manter a qualidade do trabalho. Através da graduação, o enfermeiro tem uma visão geral do exercício da enfermagem, mas é necessário fazer uma especialização para trabalhar no serviço escolhido.

Revista Nursing:
Quais são as áreas que necessitam de enfermeiros especializados?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
Todas! O currículo reza para o exercício da enfermagem, uma formação generalista e humanística, também crítica e reflexiva. Sendo generalista, o enfermeiro deveria fazer, a mais, uma especialização para atender melhor os pacientes do setor onde ele vai trabalhar.

Revista Nursing:
Sobrea infecção hospitalar, como um enfermeiro pode trabalhar contra essa situação?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
A enfermagem deveria ser “peça” central, junto ao laboratório, das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar. A enfermagem com seu senso agudo de observação e com presença em todos os setores do hospital, está capacitada para detectar os nichos de infecção. Daí a importância da educação e conscientização de todos os profissionais trabalhando no hospital por meio da formação continuada. Com certeza, com especialização em infecção hospitalar, a enfermagem deveria lidar a formação do controle de infecção hospitalar.

Revista Nursing:
Falamos no início da entrevista de como eram formados os novos enfermeiros e da educação atual, mas e o futuro da profissão? Qual a sua visão sobre o conhecimento nas universidades e a vivência dos Novos Enfermeiros?

Pe. Padre Christian de Paul de Barchifontaine:
O futuro da profissão depende da seriedade na formação do enfermeiro, fiscalizando as faculdades: conteúdo, estágios em hospital e capacitação. Precisamos ganhar a confiança do povo, dos pacientes. O futuro da profissão é promissor: um hospital não funciona sem a enfermagem (65% dos profissionais é são da enfermagem). Hoje, com as especializações, mestrados e doutorados, temos cada vez mais profissionais capacitados. E a enfermagem tem uma grande capilaridade na sociedade: enfermagem do trabalho, enfermagem na saúde da família, enfermagem na saúde pública entre outras especialidades.

Prof. Dr.Pe.Chistian de Paul de Barchifontaine: Enfermeiro, Mestre em Administração Hospitalar e Saúde, Doutorado em Enfermagem pela Universidade Católica Portuguesa. Autor e co-autor de vários livros na área da saúde, cidadania e bioética. Foi reitor do Centro Universitário São Camilo (SP) de 1994 a 2014. Atualmente, Presidente da Sociedade de Bioética de São Paulo e relações Públicas das organizações camilianas.

Por Letícia Leivas Munir

Revista Nursing
Janeiro – 2017
Ano: 20 Edição: 224

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